O Vaticano: história e espiritualidade da Cidade Santa

O Vaticano, lar da Santa Sé e sede da maior religião do mundo, recebe mais de 5 milhões de visitantes anualmente.

Apesar de ser o menor país do mundo, com apenas 110 acres de território e uma população de 1000 habitantes, suas paredes abrigam não apenas um bastião de fé e tradição católica, mas também uma cápsula do tempo que nos transporta de volta ao universo político do medievo e do império romano.

Portanto, embora seja possível percorrer todo o território do Vaticano em um único dia, levaria anos para ouvir todas as suas histórias.

No entanto, isso não nos impedirá de compartilhar algumas das melhores histórias com nossos leitores.

Vamos atravessar as portas da catedral de São Pedro e explorar o que podemos aprender em seu interior.

Santa Sé

A Santa Sé do Vaticano é a autoridade máxima da Igreja Católica e o centro do poder espiritual e administrativo do catolicismo. É o órgão governante da Igreja, com sede na Cidade do Vaticano, um Estado independente situado dentro de Roma, na Itália.

A Santa Sé é liderada pelo Papa, que é considerado o sucessor de São Pedro e o chefe supremo da Igreja Católica.

Os Estados Papais

Ao examinarmos o estado atual do Vaticano, é difícil imaginar que ele já governou o destino da Europa e de mais de 3 milhões de italianos entre os séculos 4 e 18. No entanto, essa micronação, que agora se assemelha a um condomínio, já foi conhecida como a República de São Pedro, ou simplesmente “os estados papais”.

A Santa Sé do Vaticano é a autoridade máxima da Igreja Católica e o centro do poder espiritual e administrativo do catolicismo. É o órgão governante da Igreja, com sede na Cidade do Vaticano, um Estado independente situado dentro de Roma, na Itália. A Santa Sé é liderada pelo Papa, que é considerado o sucessor de São Pedro e o chefe supremo da Igreja Católica.

Através de sólidas alianças, eles chegaram a deter o maior poderio militar da Europa. Com a queda do Império Romano, o povo da península itálica passou a depender cada vez mais da Igreja para manter a coesão social e repelir invasões bárbaras vindas de todas as partes do Mediterrâneo.

Bandeira do Vaticano. Fonte: Wikipedia
Brasão de armas do Vaticano. Fonte: Wikipedia.

Foi apenas no século VIII que a República Eclesial foi oficialmente estabelecida, quando o Papa Gregório II e seu sucessor, Gregório III, se recusaram a prestar lealdade ao Império Bizantino devido a taxas excessivas e à política de iconoclastia, que proibia o uso de imagens religiosas.

Além disso, havia uma insatisfação geral com a incapacidade de Constantinopla de defender Roma. Quando o Reino dos Lombardos invadiu a Itália, o Papa pediu ajuda ao rei franco Pippin III, que conquistou essas terras e as doou novamente ao Papa, ignorando as reivindicações bizantinas e estabelecendo o status de governo independente.

Ao longo dos séculos, os Estados Papais desempenharam um papel central na história da Itália e da Europa, enfrentando o Sacro Império Romano tanto em questões políticas quanto religiosas, sempre buscando aumentar sua influência.

Mapa dos Estados Papais. Fonte: Wikipedia

A república alcançou seu apogeu no século XV sob o governo da família Borgia, mas com o advento da modernidade, ideias liberais começaram a ganhar hegemonia, junto com a ideia de uma Itália unificada. 

Durante o período de reunificação da península Itálica, os estados Papais foram o principal desafio à união nacional, tanto geograficamente, por dividir a Itália em duas, quanto politicamente por serem apoiados por diversos estados católicos como Áustria e França. 

Com a derrota do exército Austriaco em 1859, diversos principados dos estados papais declararam independência e rapidamente se juntaram ao novo reino da Itália, até que sobrasse apenas a cidade de Roma e seus domínios, assim como as tropas francesas que a defendiam. 

Charge representando as reuniões de nacionalistas italianos. Fonte: BrasilEscola
Pintura da guerra franco-prussiana. Imagem: Pinterest.

Entretanto, quando a França começou a perder a guerra Franco-Prussiana, estas tropas foram obrigadas a se retirarem para outras frentes, deixando Roma livre para que tropas italianas entrassem em suas ruas e a tomassem. 

O Papa Leão IX recusou-se a aceitar o fim do poder temporal do papado, declarando a si e a sua corte como “prisioneiros no Vaticano”. As relações entre o Vaticano e o reino da Itália permaneceriam incertas até a assinatura do Tratado de Latrão que declarou independência do estado eclesiástico do Vaticano. 

Delegações da Itália e da Santa Sé antes do Tratado de Latrão. Fonte: Wikipedia.

A Basílica de São Pedro 

Vista da Basílica de São Pedro. Imagem: EuroDicas Turismo

Desde os primeiros dias de Roma, a colina ao oeste do rio Tibre, que delimita a antiga fronteira da cidade, foi nomeada como Ager Vaticanus, uma região de vista privilegiada preferida pelos ricos e poderosos tanto do reino, quanto da república e do subsequente império. 

Este, entre outros, foi o motivo do imperador Calígula III para construir um circo na colina, um local de corridas, apresentações e combate gladiatorial, que mais tarde seria renomeado como “O Circo de Nero”

Mapa da parte sul do local conhecido como Ager Vaticanus, durante o período da Roma Antiga. Fonte: Wikipedia
Desenho do Circo de Nero, de Pietro Santi Bartoli, 1699. Fonte: Wikipédia.
Detalhe do Ager Vaticanus com o Circo de Nero, em um mapa de Pirro Ligorio (1561). Imagem: Virtual Roma

A história do cristianismo vai de encontro à Colina Vaticana em 64 antes de Cristo, quando um terrível incêndio devastou a capital do império causando a morte de 300 pessoas e deixando outras 300,000 desabrigadas. 

O historiador romano, Tácito, acusa o próprio Nero de ter começado o fogo para reconstruir Roma a sua imagem, mas historiadores atuais desafiam essa alegação uma vez que o Imperador sequer estava presente em Roma durante o incêndio. 

Apesar do incêndio provavelmente ter sido um acidente, Nero, junto com uma grande parcela da população romana foi rápido em apontar para o crescente culto oriental que venerava um tal de “Jesus Cristo” como culpado pela destruição, iniciando assim um período de forte perseguição contra a ainda jovem religião. 

Entre os muitos mártires deste período estava o Apóstolo Pedro, discípulo pessoal de Jesus, que foi crucificado de ponta cabeça no Circo de Nero. Uma vez que a lei imperial proibia que pessoas fossem enterradas dentro da cidade, seu corpo foi levado para a  necrópoles que ficava próxima dali. 

Estudos arqueológicos realizados nas premissas do Vaticano indicam que a atual localização da Basílica de São Pedro se sobrepõe com este palco, como mostra o desenho abaixo: 

Desde então, a basílica foi saqueada e destruída duas vezes, uma por piratas sarracenos, outra por mercenários alemães em busca de pagamento por seus serviços durante a guerra dos 30 anos. 

A basílica passaria muitos anos em estado de abandono antes que por um esforço de uma longa linhagem de papas, assim como um pequeno contingente de arquitetos e artistas lendários como Michelangelo, em um processo que levou 120 anos. 

Hoje, a basílica de São Pedro não é apenas uma das maiores e mais belas igrejas do mundo, como também o local de descanso final de São Pedro Apóstolo cujo túmulo, assim como os túmulos de todos os outros papas, pode ser visitado. 

A cúpula da basílica de São Pedro foi desenhada por Michelangelo. Imagem: Pinterest
Imagem de São Pedro. Fonte: WordPress
 A “rota porphyretica”: um disco de porfírio, de mármore vermelho-vinho, onde Carlos Magno foi sagrado Imperador Romano. Fonte: Plinio Correa de Oliveira
Cúpula do Vaticano vista de cima. Fonte: ideiasnamala.com

No assoalho da basílica também descansa a pedra circular sobre a qual Carlos Magno foi coroado Sacro Imperador Romano. 

Visitantes interessados também terão a oportunidade de explorar a cúpula do Vaticano e realizar a subida sinuosa por seu interior até o terraço e telhado, onde é possível desfrutar de uma vista privilegiada tanto da praça S. Pedro, quanto da cidade de Roma. 

A Capela Sistina

Imagem: Info Escola

Construída entre 1475 e 1481 a pedido do papa Sisto IV, de quem herdou seu nome, a Capela Sistina é o magnum Opus do pintor Michelangelo e um dos mais belos prédios do mundo. 

Coberta em toda sua extensão pelos afrescos do pintor renascentista, a capela é por virtude da vastidão e detalhe de suas ilustrações, um quadro sacro e uma bíblia inteira em forma de edifício. 

Entre seus murais mais impressionantes temos o juízo final, o qual representa as cenas chocantes do fim do mundo, incluindo cenas do inferno como representadas pelo poeta Dante Alighieri. 

Teto da Capela Sistina, por Michelangelo. Imagem: Lonely Planet
O Juízo Final, 1538-41 (pré-restauração). Imagem: Meister Drucke

No mural vemos as almas salvas à direita de um Cristo justiceiro, entre elas Santo Bartolomeu que segura sua própria pele esfolada, enquanto à esquerda temos as almas condenadas, entre elas um crítico de Michelangelo que usa orelhas de burro. 

A Capela Sistina faz parte do trajeto dos museus e pode ser acessada com o mesmo ingresso e nos mesmos horários. 

O menor país do mundo

Pequeno ou não, o Vaticano é uma nação reconhecida internacionalmente com tudo o que se pode esperar da estrutura estatal de um país, como um exército, um sistema jurídico (com um único juiz), um hino nacional e até mesmo uma seleção de futebol. 

Mapa do país (ou cidade) do Vaticano. Fonte: YourTravelToItaly.com
Localização do Estado da Cidade do Vaticano. Fonte: Wikipedia.

Seu tamanho é também o motivo pelo qual o Vaticano é, em virtude de ampla e inestimável seleção de obras de arte e artefatos históricos, o único país a ser considerado um patrimônio da humanidade em sua totalidade pela UNESCO. 

Para além da própria basílica, o Vaticano também clama como território muitos prédios como a Santa Casa de Loreto como e até mesmo para além da Itália, como é o caso do observatório espacial do Vaticano em Mt Graham nos Estados Unidos. 

Santa Casa de Loreto, no Vaticano. Fonte: MarcheBreaks
O museu

Chamar o complexo de exposições do Vaticano de “museu” é um eufemismo, motivo pelo qual o nome oficial é “Os Museus Vaticanos”, os quais estão interconectados em um gigantesco complexo que abrange arte, história, cartografia e a própria Capela Sistina. 

Pinacoteca: Montada a partir das coleções pessoais de diversos papas, a Pinacoteca do vaticano é composta por 18 quartos dispostos em ordem cronológica organizando mais de 360 quadros, incluindo obras de Da Vinci, Rafael e Caravaggio.

Pinacoteca do Vaticano. Fonte: Cntraveler.com

Galeria Pio-Clementino: A galeria Pio-Clementino é o maior dos complexos que compõem o museu do Vaticano e abriga em seu interior algumas das maiores obras primas esculpidas pelo mundo antigo. 

Detalhe no museu Pio-Clementino. Fonte: family.derecola

Seu acervo inclui obras como Apollo Belvedere e o conjunto conhecido como Laocoön e Perseu segurando a cabeça da medusa, entre muitas outras. 

Museu Egípcio Gregoriano: Uma icônica coleção de artefatos do Egito Antigo, muitas das quais, ironicamente, foram encontradas em Roma, assim como artefatos mesopotâmicos e assírios. 

Pátio da Pinha, uma das entradas do Museu Gregoriano Egípcio. Imagem: Para Viagem

Este acervo inclui múmias, sarcófagos, decorações pictóricas, mas também artefatos significativos como a cabeça do faraó Mentuhotep. 

Os Salões de Rafael: O que um dia foram os aposentos pessoais do papa Júlio II, hoje é uma das principais atrações do museu do Vaticano, expondo algumas das maiores obras de Rafael como A Escola de Athenas e Parnassus. 

Salas de Rafael nos museus vaticanos. Imagem: Post Italy

Com um único ingresso, todas as exposições acima e outras, como a galeria de carruagens e salão de cartografia se tornam disponíveis para visitantes. 

De  Segunda a Sábado: 9h às 18hs 

Aos Domingos: 9h às 14hs 

Os jardins
Imagem: Aleteia

Os mais belos e exclusivos jardins de Roma. Poucas reservas são aceitas para visitantes. Ao conseguir uma destas raras visitas, você terá acesso às melhores vistas da Basílica de São Pedro. assim como a estruturas e estátuas romanas autênticas. 

Aqueles privilegiados com uma visita ao jardim também desfrutarão de acesso ao museu sem passar pela fila. 

Jardim Mariano: Projetado para ser um local calmo onde os Papas podem vir e rezar, o jardim mariano possui uma gruta que em muito se assemelha à gruta de Nossa Senhora de Lourdes e ao seu lado está um belo jardim no estilo francês. 

Jardim de Pedra: Uma formação artificial de pedras das quais pequenas cachoeiras escorrem gentilmente para uma grande fonte, um conjunto composto pelo escultor holandês Jan Van Santen. 

Torre de San Giovani:  Uma guarnição medieval restaurada a pedido do Papa João XXIII, hoje é utilizada como cômodo para convidados ilustres, embora o topo da estrutura ainda seja aberto para visitação e ofereça uma vista pacífica de Roma e do Vaticano. 

As visitas aos Jardins do Vaticano sempre ocorrem de manhã, por volta das 9hs. 

Tradições de cultura

A Fumaça Branca do Conclave: Talvez uma das tradições mais famosas do Vaticano, a fumaça do conclave é o sinal do conselho de cardeais de que um novo Papa foi eleito, um evento assistido em todo o mundo. 

Fumaça branca indicando a eleição de um novo papa. Imagem: Terra

A reunião do conclave ocorre em uma sala trancada, da qual cardeal algum pode sair até que um novo sumo-pontífice seja eleito. Quando um resultado é alcançado de forma satisfatória, a fumaça branca é lançada para anunciar aos fiéis do lado de fora. 

Se algo ocorre de errado no processo de eleição de forma a invalidar a votação, uma fumaça preta é solta no lugar. 

O Anel do Pescador: Todos sabem do estiloso chapéu usado pelo Papa como bispo de Roma, ou de seu hábito branco, mas o verdadeiro símbolo do cargo de líder espiritual da Igreja Católica é o anel do pescador. 

O Anel do Pescador. Imagem: Retreats for Catholics

O anel possui este nome devido ao fato de ter impresso em sua superfície o perfil do Apóstolo Pedro, que foi, antes de seguir Jesus, um pescador no mar da galileia cuja autoridade como líder da igreja seria herdada pelo papa. 

Quando um Papa morre, seu anel é destruído e o seu sucessor recebe um novo junto ao seu novo nome. 

A Guarda Suíça: A segurança pessoal do Papa é realizada por uma guarda de cem soldados suíços escolhidos a dedo com base em uma série de critérios rigorosos.

A guarda suíça do Vaticano. Imagem: Plataforma Media

Estes soldados devem ser do sexo masculino, ter entre 19 e 30 anos, não medir menos de 1,74m, serem católicos crismados e ter fluência em alemão. 

A existência da guarda data do século XVI, durante o reinado de Julio II, o papa guerreiro, que contratou uma companhia de mercenários suíços para agir como um batalhão de elite em seu exército e decidiu que eles também deveriam ser sua guarda pessoal. 

Conclusão

As dimensões diminutas do Vaticano só servem para realçar o imenso significado desta cidade, não apenas para os bilhões de fiéis da fé católica, mas também para a história da humanidade como um todo. 

De seus muitos corredores e salas, o destino da Europa foi decidido centenas de vezes para o bem e para o mal, os corpos de santos, reis e imperadores descansam no seu subsolo e como se isto não bastasse, o Vaticano concentra a maior quantidade de beleza por metro quadrado de qualquer lugar no mundo. 

Independentemente do seu credo, ou ausência do mesmo, entrar em contato com um broker da LifeStyle Hall para agendar a sua visita a este lugar místico, belo e imponente é uma das melhores decisões que você tomará em sua vida. 

Fontes: 

https://www.britannica.com/place/Vatican-City

https://www.britannica.com/place/Papal-States/The-15th-century-to-the-French-Revolution

https://www.romewise.com/brief-history-of-vatican-city.html

https://pt.aroundtravels.com/article-about-vatican/traditions-vatican-customs-photos.html

https://civitavecchia.portmobility.it/en/7-things-see-vatican-museums

https://www.walksofitaly.com/blog/art-culture/visiting-st-peters-basilica

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